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Revista Alma

FÉ NO DIÁLOGO

O MIR – Movimento Inter-religioso do Rio de Janeiro é uma das iniciativas mais significativas de diálogo e cooperação entre as diferentes tradições religiosas. Nessa entrevista, Maria das Graças Nascimento, sua coordenadora executiva, faz um balanço desses 25 anos de atividade.

 

RA – Qual o legado do MIR nessas mais de duas décadas de atuação?

 

Antes do MIR, era raro vermos líderes religiosos atuando conjuntamente ou discutindo questões que transcendem a esfera mais imediata da religião, como cidadania e meio ambiente, por exemplo. Seu surgimento foi um marco no diálogo inter-religioso. Com ele, percebemos que era possível sentarmos à mesa e desenvolvermos ações conjuntas, mas também descobrimos os ângulos mais problemáticos desta tentativa.

 

RA – Em que contexto o MIR surgiu?

 

Em um momento especial: a ECO-92. O Instituto de Estudos da Religião – ISER foi incumbido de organizar uma vigília inter-religiosa para o evento e articulou as lideranças. Cerca de 30 mil pessoas participaram da vigília, que uniu religião, arte, música e 25 grupos religiosos. Nunca tantas pessoas, de diferentes tradições, haviam se reunido para uma celebração. O evento atraiu lideranças como o Professor Hermógenes (Yoga), Mãe Beata de Iemanjá (Candomblé), Katja Bastos (encantaria Cigana), o Reverendo André Mello (Igreja Presbiteriana), Wanda Linhares (Grande Fraternidade Branca), o Rabino Nilton Bonder (Judaísmo) e muitos outros. Quando percebemos, havia um grupo com forte representatividade, abertura para o diálogo e desejo de agir conjuntamente.

 

RA – Nascia o Movimento Inter-religioso do Rio de Janeiro…

 

O MIR foi concebido como um Programa do ISER e passou a organizar encontros mensais, inspirados na ideia de “Unidade na Diversidade”. Elaboramos um calendário e cada grupo comandava uma celebração baseada em sua própria tradição — o aniversário de Buda, a Páscoa, o Ano Novo chinês… Foi um período de grande troca e aprendizado em que as tradições se visitavam, apostando no conhecimento mútuo e no respeito.

 

RA – E quais são os maiores desafios para o diálogo?

 

Nem sempre é fácil. Logo percebemos que a questão teológica seria um limite, a fronteira a ser respeitada. Mas para isso foi preciso conhecermos um pouco mais cada uma das tradições. Não há respeito e diálogo sem abertura para conhecer o outro. Por isso, seguindo o direcionamento do próprio ISER, nossos grupos de trabalho foram organizados inicialmente por matrizes. Havia a matriz cristã, a matriz africana e assim por diante. Hoje, preferimos o conceito de “multirreligioso”, em que trabalhamos todos juntos com base na ética e no respeito. Outra grande dificuldade é o caráter missionário das tradições hegemônicas, um impulso de conversão que dificulta tremendamente o diálogo.

 

RA – Ter uma agenda social comum facilita a mobilização?

 

Sem dúvida. No MIR, refletimos o pensamento de diversos grupos religiosos e alguns deles têm esse caráter mais participativo e combativo, no bom sentido. Sempre estivemos comprometidos com agendas sociais. Participamos ativamente da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida e na discussão de temas como o ensino religioso e a prática religiosa em unidades de conservação, só para citar alguns exemplos. Nestas ações, atuamos em parceria com organizações e entidades próximas como o Viva Rio, a URI (Iniciativa das Religiões Unidas), o CCIR (Comissão de Combate à Intolerância Religiosa) e o KOINONIA.

 

RA – E qual é hoje a diretriz do MIR?

 

Entendemos que a espiritualidade é o caminho de superação dos desafios éticos do Século 21. Congregamos tradições, religiões, movimentos, povos e culturas, conscientes de que atravessamos uma mudança profunda de valores e que os graves problemas da atualidade só podem ser enfrentados através do reencontro da unidade que, para além das diferenças, existe entre todos os seres e culturas. Nossos encontros são abertos e desenvolvemos anualmente as Aldeias Sagradas, um painel multirreligioso com atividades culturais e debates em que as tradições apresentam seus valores, crenças e projetos associados ao tema do ano. Na última edição, abordamos as mudanças climáticas. Sintonizadas com a iniciativa global Fé no Clima, nossas tradições mostraram que seu conhecimento, em alguns casos milenar, é mais atual e urgente do que nunca.

 


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