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Revista Alma

A SEDUÇÃO DE ADÉLIA

 

Quando se fala em poesia mística, pensamos na Espanha do século XVII.  Por que não em Divinópolis, Minas Gerais? Foi lá que nasceu a maior poeta brasileira viva, Adélia Prado, lírica, bíblica e existencial, segundo Carlos Drummond de Andrade, e comparada por muitos à santa mais polêmica e literata de todos os tempos: Teresa d’Ávila.

 

Não pelos êxtases místicos, claro. Como a monja carmelita, Adélia tirou o criador do píncaro celestial, inalcançável, experimentando-o na intimidade do próprio corpo. Em vez do silêncio, confessou tudo numa heresia literária que lavou nossa alma e nos manteve nos trilhos da fé. Ao trazer o desejo para o centro do debate teológico, a mineira alargou a experiência religiosa de nosso tempo, recusando as pechas de careta e herege, sintonizando o poético e o religioso na mesma busca de transcendência.

 

“Estou no começo de meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa.”

A Serenata – Bagagem – 1976

Erotismo sagrado

 

Estudiosas da obra adelina, Geovana Pires e Elisa Lucinda levaram vinte anos para transpor sua essência transgressora para teatro, fazendo de “A Paixão Segundo Adélia Prado” uma aula de poesia, teologia, sensualidade e, sobretudo, de maturidade. Das duas. Das três, aliás, e em todos os sentidos. O erotismo sagrado de Adélia, sua poesia escrita com “doçura, genitália, útero e muita fé”, como se lê no encarte da peça, estão tão equilibrados na dramaturgia que o texto flui como água viva. Nem parece uma colagem.

 

Epifania teatral

 

Bendito fruto no elenco, o músico André Ramos, quase não fala. Mas toca, é tocado e tem uma função essencial na montagem que estreou em outubro no Teatro Laura Alvim, no Rio de Janeiro. Só vendo para compreender. Não estava na concepção original da peça, mas Geovana teve uma epifania após as primeiras apresentações e criou um anjo esbelto como o do poema “Com licença poética”, que marcou a estreia literária de Adélia em 1976, com o livro Bagagem.

 

Profissão de fé

 

Mas é do encontro entre Elisa e Adélia que se faz a peça. Corpo e alma do espetáculo, as duas se abraçam num encontro vertiginoso, e talvez inédito, entre duas poetas maiúsculas em nosso teatro. É Elisa, a atriz, quem as representa. E está soberba.

Talvez seja este o segredo da peça: consagrá-la a essa transcendente e feminina profissão de fé. Na poesia.

 

 

A Paixão Segundo Adélia Prado

 

Até 12 de fevereiro de 2017

Teatro Laura Alvim

Av. Vieira Souto, nº 176, Ipanema, Rio de Janeiro

Informações: (21) 2332-2015

Quinta a sábado: 21h.

Domingo: 20h.

 


REVISTA ALMA – ESPIRITUALIDADE CONTEMPORÂNEA

 

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