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Revista Alma

EXPEDIÇÃO ABRAMOVIC

 

Marina Abramovic está para as artes plásticas como Lady Gaga está para a música pop. A sérvia é uma das cem pessoas mais influentes do mundo, segundo a Revista Time, e vive em Nova Iorque, onde mantém um instituto dedicado a preservação do estilo de arte que a notabilizou: a performance. Em vez de telas e esculturas, produz experiências com forte potencial de transformação individual, usando o corpo eventualmente como suporte. Daí a fronteira – para alguns, tênue – entre sua arte e os rituais e experiências místicos.

 

Para explorar essa relação e superar a crise instaurada pelo fim de seu casamento, Marina empreendeu uma série de viagens pelo Brasil entre 2012 e 2015. Acompanhada pelo brasileiro Marco Del Fiol e sua equipe de filmagem, a sérvia percorreu mais de seis mil quilômetros em nossas estradas esburacadas para encontrar o que chamou de locais e pessoas de poder. A experiência está no documentário “Espaço além – Marina Abramovic e o Brasil”, em cartaz por aqui desde março.

 

Locais e pessoas de poder

 

São 86 minutos em que Marina percorre, com reverência e interesse, o que há de mais profundo e surpreendente no território de nossa espiritualidade. Participa de rituais xamânicos, experimenta ayahuasca, excursiona por grandes reservas de cristal, visita terreiros de candomblé e conhece pessoas “de poder” como Dona Flor, uma setuagenária que cura com ervas que lhe são sugeridas intuitivamente desde os nove anos de idade. O currículo de Dona Flor inclui 18 filhos naturais, 27 adotivos e mais de trezentos partos realizados com ajuda do mestre invisível que ela acredita acompanhá-la.

 

No Vale do Amanhecer, uma comunidade repleta de templos e de pessoas com curiosos trajes cerimoniais, Marina pensa em Stanley Kubrick. A paisagem é de ficção científica. Mais ficção do que científica –  a ciência, como se sabe, não embarca em expedições semelhantes às de Marina nem reconhece curas surpreendentes e aparentemente numerosas como as do médium goiano João de Deus.

 

Um Brasil que não conhecemos

 

A sérvia esteve por três dias na Casa Dom Inácio de Loyola, onde o médium centraliza suas atividades. Meditou com ele por horas seguidas, teve visões, conversou com estrangeiros que são voluntários no local e acompanhou uma cirurgia. Dispensando anestesia e com uma prosaica faca de cozinha, o médium raspa o globo ocular de um paciente, que não demonstra qualquer traço de dor.

 

Mais dor sentiria a sérvia, pouco depois, num ritual em Curitiba. Orientada por Denise Maia, uma xamã, tenta quebrar um prosaico ovo de galinha com a mão esquerda, mas não obtém sucesso. Suas dores e dificuldades – tudo que desejava superar, ao vir para o Brasil -, estariam ali dentro. A cena é digna das primeiras performances da carreira de Marina e o filme é de certa forma sobre isso: a relação entre arte e espiritualidade ou, mais especificamente, entre performance e ritual. Mas também é um belo e curioso retrato do Brasil.

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