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Revista Alma
Tati Zaratin
Foto: Tati Zaratin

O ZEN E A ARTE DA BIOCONSTRUÇÃO

 

Uma casa com estrutura de bambu e feita, basicamente, de areia, água, terra e feno. Será que se mantém em pé por muito tempo? Pode parecer ilógico para quem vive rodeado cada vez mais de concreto pensar em habitações desse tipo, mas há uma porção de construções seculares ao redor do mundo, cujos materiais oriundos da natureza, como esses, são a base. E elas servem de inspiração a uma onda que vem crescendo a cada dia no Brasil: a da bioconstrução.

 

Grande compaixão

 

Inspirado no que viu – e aprendeu sobre o assunto –, nos quatro anos de treinamento monástico no Japão, e em algumas memórias afetivas da infância junto a familiares arquitetos, o monge budista Enjo Stahel decidiu investir nesse tipo de prática para levantar o templo Taikanji (templo da grande compaixão, em japonês), no começo dos anos 2000, na cidade de Pedra Bela, em São Paulo. “O terreno era da família e a minha mãe não estava mais no pique de tocá-lo. O isolamento era ideal para os retiros de silêncio e a natureza oferecia o que eu precisava para a construção. Tudo favorecia”, conta Enjo.

 

Esse tipo de construção forma uma teia importante de relacionamentos, cria laços fortes que nos ajudam em todas as outras atividades da vida

 

Teia de relacionamentos

 

Como os recursos eram poucos, ele convocou um vizinho, a quem repassou as técnicas, e os dois, sozinhos, deram início à empreitada, que começou pela construção do zendô, a sala de meditação. Mas, com o tempo, membros da sangha (comunidade espiritual) se voluntariaram e de uma iniciativa acanhada, o projeto começou a crescer e ganhar novos contornos, sobretudo afetivos, como relata o monge: “Esse tipo de construção forma uma teia importante de relacionamentos, cria laços fortes que nos ajudam em todas as outras atividades da vida”.

 

Enquanto alguns dão a liga no barro ou se juntam para estruturar paredes, outros se reúnem na cozinha e preparam o lanche coletivo. Durante as atividades, além dos intervalos, todos tecem uma rede invisível, porém poderosa, de carinho, cumplicidade e boas histórias. E essa comunidade de bioconstrutores vem se fortalecendo: em fevereiro de 2016, uma nova etapa teve início em Pedra Bela; a construção da casa comunitária, que vai abrigar quarto, cozinha, copa, escritório e um salão multiuso para atividades diversas do templo.

 

Mãos à obra

 

Por meio do “boca a boca” e divulgação nas redes sociais, mais de duzentas pessoas participaram dos mutirões até o momento e, a cada novo encontro, o número cresce (sobretudo na lista de espera). Ainda não há previsão para o término da obra, até porque o projeto macro para o espaço contempla novas hospedagens, além da confecção de jardim e horta.

 

Tati Zaratin

Vista externa da área em construção – foto: Tati Zaratin

 

Estar em contato com a natureza é parte importante da prática espiritual budista. Foi em meio ao verde que Buda Sakiamuni buscou inspirações para suas ideias, o chamado caminho óctuplo, cuja meta é o fim do sofrimento. As cores e texturas presentes na diversidade da flora e da fauna sugerem, espontaneamente, uma conexão mais profunda do ser humano com ele mesmo e, também, com o ambiente que o cerca.

 

Sob as cerejeiras

 

Por isso, no Taikanji, flores e pequenos insetos são protagonistas, alegrando e harmonizando a fazenda. Em julho, alguns pés de cerejeira, completamente floridos, recepcionaram os cerca de 40 bioconstrutores voluntários para o mutirão de número 5 da casa comunitária. Como o trabalho era necessário, mas a contemplação dessa beleza também, a saída foi fazer pequenos intervalos na obra – incluindo um piquenique – embaixo das árvores, na companhia dos colibris. Inesquecível! No encontro de agosto, a chuva não deu trégua, mas – ainda assim – o trabalho seguiu seu curso, com alegria e disposição. O que será que está reservado para o mês de setembro?

 

Tem interesse em participar do próximo mutirão? Curta a página do Templo Taikanki no Facebook e fique de olho nos eventos: https://pt-br.facebook.com/templotaikanji/

 

Site: https://www.taikanji.com.br/

 


UM POUCO MAIS SOBRE O TAIKANJI 

 

O Zengetsuzan Taikanji – “Montanha da Lua Zen, Templo Budista da Grande Compaixão” – fica a 150 km de capital paulista, na zona rural do município de Pedra Bela, e foi estabelecido pelo Monge Enjo em 2004, após seu treinamento monástico no Japão. Dedicado a Kannon, o Bodhisattva da Compaixão, o Taikanji segue a tradição da Escola Soto Zen do Japão, possui uma grande área de proteção ambiental e é adepto não só da bioconstrução, como da agricultura orgânica e da compostagem.

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[ Carolina Conti ]

Carolina Conti é jornalista com especialização em Ciências da Religião pela PUC/SP. Atua como editora e coordenadora da área de Comunicação na Omnisciência (www.omnisciencia.com.br), além de trabalhar como repórter freelancer e ser aprendiz de bioconstrução.

 









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